Oswaldo Coimbra abre com brilhantismo o III Congresso Seama de Comunicação


Ontem às 19h, sentados confortavelmente em nossos assentos no salão de atos da Faculdade Seama, pudemos apreciar a palestra do jornalista e professor Oswaldo Coimbra, autor do livro “O texto da reportagem impressa”. O tema da palestra foi: O processo de produção do texto da reportagem impressa.
Coimbra acredita que a palavra é apaixonante e faz parte da tradição cultural humana. Para ele, as dificuldades em escrever um bom texto não se relacionam apenas com falta de leitura, mas também se devem ao fato de os leitores não poderem empregar o vocabulário novo no cotidiano, uma vez que existe um policiamento social no uso das palavras.
Acontece que, de fato, a maioria das pessoas se sentem inibidas em expressar o que aprendem nos livros. Isso se deve, diz ele, ao fato de a sociedade criar estereótipos para quem costuma se manifestar de forma diferente dos padrões socioculturais.

Dificuldades na compreensão da escrita
Detentor de um imenso conhecimento narrativo, Coimbra explicou que a linguagem corporal e a escrita trabalham em conjunto no nosso dia a dia, por isso, é muito difícil conseguir expressar em códigos linguísticos arbitrários (letras, palavras) o que realmente desejamos e da forma como desejamos. “Ler um texto é muito diferente de conversar pessoalmente com alguém. Na conversa cara a cara podemos observar as expressões corporais e na leitura de um texto escrito, que representa o discurso verbal de alguém, há grandes chances de haver ruídos na comunicação”, ressalta.
Um grande exemplo de entropia na comunicação aconteceu com um dos maiores compositores brasileiros, ninguém menos que Chico Buarque de Hollanda.
Ele compôs a canção “Mulheres de Atenas” em 1976 para a peça “Mulheres de Atenas”, de autoria de Augusto Boal. Ao escrever a letra, Buarque desejava instigar a revolta entre as mulheres que se humilham aos seus maridos. Porém, em plena ditadura militar e período de vigência do AI-5, a letra de cunho feminista dificilmente passaria pela censura.
Assim sendo, ele decidiu usar o recurso da ironia, como se estivessem elogiando as mulheres “à moda antiga”. A peça foi considerada um escândalo na época. Eles receberam muitas vaias e cuspes. As pessoas esperavam assistir a uma encenação libertária, mas viram apenas uma mulher que era sombra do marido.
A intenção de Buarque e Boal era fazer com que os espectadores se sentissem penalizados e revoltados com a situação das mulheres atenienses. Mas, o que aconteceu, foi que muitos acabaram se revoltando contra eles dois.

Habilidades necessárias para escrever bem e com criatividade
Curiosidades à parte, voltando às explanações de Coimbra sobre a produção de texto, o pós-doutor em jornalismo explicou que existem três habilidades principais para se escrever bem: desenvolvimento da capacidade de percepção; organização e associação das percepções; e, por fim, a verbalização.
De acordo com Coimbra, é preciso enxergar as situações corriqueiras de diversos ângulos para extrair delas o melhor, isto é, o bom jornalista precisa viver com os olhos atentos às minúcias dos acontecimentos. Este é o primeiro passo para escrever com originalidade. “As pessoas precisam aprender a usar sua capacidade de percepção”, enfatiza.

Dúvidas
Uma pessoa na plateia fez a seguinte pergunta: o lead não seria uma forma de ofuscar a criatividade e originalidade? Então, qual seria a solução?
Oswaldo Coimbra respondeu que o New Jornalism (Novo jornalismo ou jornalismo literário) é uma excelente forma de driblar essa situação. Esse gênero jornalístico mistura história e literatura. O escritor é livre para narrar o fato com personagens, detalhes e o máximo de informações possíveis.
O jornalismo literário requer muita dedicação, apuração e persistência do jornalista.

Indicações de leitura:

O texto da reportagem impressa – um curso sobre sua estrutura
Autor: Oswaldo Coimbra
A Sangue Frio
Autor: Truman Capote



Fonte:
Isabella Araujo
Blog Comunicação Seama